Refúgios à beira-mar

Solários, pequenas enseadas, piscinas naturais, praias de calhaus rolados ou areia negra, de basalto… não falta variedade e beleza às praias da Madeira.

 

Para quem vive na Madeira, ir à praia é um conceito por vezes difícil de entender. A noção de um extenso areal amarelo, abraçado suavemente pelas ondas, só existe no imaginário e na vizinha ilha do Porto Santo que tem uma das melhores praias de Portugal.

Na Madeira é diferente. Ir à praia significa, na maior parte dos casos, ir a um dos muitos acessos, onde não existe praia. Muitos desses acessos foram construídos, e alguns integram complexos hoteleiros. Outros são acessíveis ao público.

E o que pode parecer à primeira vista estranho, acaba por ser uma das principais marcas das zonas balneares em toda a ilha. São pequenos cais e pontões, piscinas naturais, lajes em betão e também praias de calhaus rolados, ou de areia negra.

Para os adeptos deste tipo de “praia” uma das vantagens é o contacto imediato à frescura do oceano, além da possibilidade de entrar de mergulho e do facto de a areia não turvar as águas na rebentação.

No Funchal, a Doca do Cavacas é um exemplo deste tipo de acesso. É um pequeno complexo construído em torno de piscinas naturais, as Poças do Gomes, como também são conhecidas. O acesso é pago e existe vigilância todo o ano, além de um bar de apoio.

Do outro lado de um pequeno túnel que serviu, no passado, de vigia de baleias, está a Praia Formosa, a principal área balnear do Funchal, com uma extensão de 2 quilómetros. Alterna areia e calhau e está dividida em quatro zonas: Praia Nova, Formosa, dos Namorados e do Areeiro. É a única praia de Portugal adaptada para invisuais, premiada com o galardão de “Praia Acessível 2015”.

Outra referência, também por razões históricas, é o Lido, cuja piscina original foi construída na década de 1930 e que desde então serviu de acesso público ao mar para gerações de madeirenses e visitantes, tendo sofrido ao longo do tempo diversas remodelações.

E se no Funchal dominam os complexos balneares ou os acessos construídos, sobretudo por hotéis, fora dos meios urbanos a oferta é vasta e diversificada e por vezes mistura conceitos. Em alguns casos há mesmo a possibilidade de nadar dentro de uma reserva natural, como no Garajau, uma praia magnificamente, encaixada no sopé de uma escarpa, acessível por um teleférico.

A beleza natural é uma forte componente dos acessos ao mar na Madeira. As pequenas enseadas, como o Cais do Sardinha, na icónica Ponta de São Lourenço, no extremo leste da ilha, são um bom exemplo. Para chegar é necessário fazer um percurso a pé, durante cerca de uma hora, a partir do fim da estrada. Mas a caminhada compensa. Águas cristalinas e uma praia onde predomina a tranquilidade.

Ali perto, outra enseada tem uma característica única. É a única praia da Madeira em que a areia é mais clara, sem a tonalidade negra que caracteriza o basalto. É a Prainha, praticamente escondida de quem olha da estrada, acessível através de uma escadaria íngreme. À volta, só o mar e uma muralha formada pela escarpa.

E para quem não gosta de nadar, a Prainha vale só pela vista, a partir de um miradouro sobranceiro ao areal.

É também no Caniçal que a Praia da Ribeira de Natal tem vindo a ganhar fama. É de calhau, mas a sua extensão e até mesmo o cais, convidam a banhos. O acesso é fácil e livre, possui estacionamento e tem vigilância durante a época balnear, além uma promenade. O bar de apoio, o Ritual do Sal, ajuda a criar ambiente.

Seguindo um trajeto para Oeste, a Fajã dos Padres oferece uma experiência única, a começar pelo acesso, feito apenas por mar ou por um teleférico. Esta fajã, uma zona junto ao mar que resultou de derrocadas, tem um característico cais e um solário, além da beleza da escarpa.

Ali perto o Calhau da Lapa também é acessível por mar. Mas a maior parte dos frequentadores deste pequeno complexo, escondido na paisagem, faz a descida íngreme, a partir da estrada, no Campanário. Lá em baixo, águas límpidas e uma vista sem barreiras, para o horizonte.

Seguindo viagem, a zona ribeirinha da Ribeira Brava e da Ponta do Sol oferece praias e complexos balneares. Esta zona tem o clima mais ameno da Madeira, que se estende também ao vizinho concelho da Calheta, que embora conhecido por uma praia artificial de areia amarela, trazida de Marrocos, tem várias praias naturais cheias de identidade.

Na mesma avenida há outro acesso, mais reservado, em frente ao hotel Savoy Saccharum.

No Jardim do Mar, localidade conhecida pelo surf, o Portinho é uma opção procurada no Verão. Fica perto do Paul do Mar, terra de pescadores, onde o porto é também procurado para banhos. A praia mais conhecida é provavelmente Ribeira das Galinhas, também recomendada para surf ou pesca desportiva, além de proporcionar belos pores-do-sol.

Na costa norte o mar é diferente e a paisagem também. Parece outra ilha. O microclima da Madeira ajuda a explicar este fenómeno. A norte as montanhas são mais abruptas, o mar parece mais negro e algumas das praias e acessos são envolvidas por uma paisagem luxuriante.

Neste aspeto o Seixal é paragem obrigatória. O porto de abrigo mistura a areia preta com a suavidade das ondas e vistas para a imponente Natureza. É uma das imagens de marca da Madeira, utilizada até para efeitos de promoção do destino turístico.

Também o Complexo Balnear do Seixal oferece uma piscina natural e acesso gratuito, com um enquadramento numa paisagem única. Mais selvagens são as Poças das Lesmas, ou a praia da Laje, também conhecida como Praia da Jamaica. Fica entre rochedos numa paisagem que mistura o verde da montanha com o azul do mar.

No extremo norte está outra das imagens mais icónicas da Madeira, as piscinas naturais do Porto Moniz. Há décadas que são admiradas e fotografadas. Mas o complexo balnear que as envolve é cada vez mais procurado, pela frescura da água do mar que alimenta aas piscinas de lava. Com um solário de 3.800 m², é um complexo com vigilância, que oferece todos vários serviços, que incluem aluguer de guarda-sóis e espreguiçadeiras.

Ali ao lado existem outras piscinas naturais, junto ao restaurante Cachalote. Têm a particularidade de ser pouco profundas, com águas tranquilas, refrescadas pela subida das marés.

Outros exemplos multiplicam-se na costa norte. Não são propriamente piscinas naturais, e muitas praias não estão vigiadas, ou são de difícil acesso. Mas no litoral em São Vicente, Ponta Delgada, foz da ribeira do Faial, ou Porto da Cruz existem complexos balneares, vigiados, e com equipamentos, além do muito popular Calhau de São Jorge, na foz de uma ribeira, onde lagoas de água doce coabitam com o salgado do mar.