A Igreja dos Descobrimentos

Com a prosperidade económica do açúcar no século XVI foi erguida em Machico um dos mais belos templos da Madeira.

As sugestões que constam deste artigo devem servir de inspiração para o dia em que forem retiradas as restrições à liberdade de circulação. Para já colabore com as autoridades. Fique em casa! Ajuda o Mundo a vencer a Covid-19.

 

No início do século XVI a Madeira estava dividida em duas capitanias, uma delas, que compreendia toda a costa norte e a ponte leste da ilha, tinha sede em Machico. Foi aqui a família dos Capitães-donatários, mandaram construir uma igreja que lhes serviria de jazigo.

É uma construção gótica um estilo impulsionado em Portugal pelo rei D. Manuel I e que por causa disso ficou conhecido como estilo manuelino. É um templo de planta longitudinal, composto por uma nave e capela-mor retangulares, flanqueada a Sul, pela torre sineira quadrada, pela Capela do Terço, o Cartório Paroquial e a Capela do Santíssimo, retangulares; e a Norte os volumes retangulares e quadrados da sacristia, da Capela de São João, da Capela do Espírito Santo e do Baptistério.

O pórtico da fachada principal é em arco quebrado, apoiado, em colunelos com capitéis decorados, encimados por uma rosácea, em cantaria da Madeira. Também na fachada a Sul, possui um outro portal em arco quebrado, também manuelino.

Ocupa uma posição central na cidade que se foi construindo em seu redor. A igreja propriamente dita teve várias intervenções ao longo do tempo. Durante o século XVII foi alvo de obras de beneficiação e restauro. Em 1698 foi finalizada a capela-mor. Em 1770 é construída a Capela do Terço, mandada edificar pelo povo.

Já no século XIX a torre, que tinha sido demolida anteriormente por ameaçar ruina, é reedificada. O resultado de todas estas intervenções é uma mistura de estilos na igreja atual: elementos do manuelino, a capela-mor já em estilo maneirista, e partes da construção ao gosto barroco.

Em 1933 é feita a pintura dos tetos de madeira da igreja e da abóboda do Santíssimo, atribuída ao pintor João Firmino Fernandes e em 1948 é classificada como Imóvel de Interesse Público. Em 1963 e 1964 é construído o Baptistério e do coruchéu da torre em cantaria vermelha.

Recentemente a Capela do Terço sofreu obras de restauro de modo a que ali se pudesse expor o tesouro da Igreja, que se encontrava armazenado em outro local da Igreja.

O tesouro é constituído por várias peças de ourivesaria sacra de prata e prata dourada, algumas delas usadas ainda hoje em época festivas, abarcando a produção nacional e regional entre os séculos XVI e XIX. Algumas dessas peças ostentam a marca de ourives, o que enriquece culturalmente ainda mais o tesouro.

Uma das peças em destaque é uma Patena, uma salva para consagração do pão e do vinho, durante as missas, produzida por uma oficina flamenga, do início do século XVI, de prata incisa. Destaca-se ainda uma Cruz Processional, produzida numa oficina madeirense, do início do século XVII, em prata relevada e incisa, assim como diversas Varas de Pálio. Há ainda um Cálice, de uma oficina nacional, produzido em meados do século XVII, e uma Naveta, de uma oficina de Lisboa, datada de 1730-1750, ambos também em prata relevada e incisa.

Tal como aconteceu com outros templos, a Igreja Matriz de Machico recebeu ofertas régias desde o reinado de D. Manuel I, monarca que dedicou sempre grande atenção à Madeira. A igreja beneficiou também de ofertas dos fiéis e confrarias que ao longo do tempo foram enriquecendo este excelente espólio, que merece uma visita demorada. O acesso à Sala do Tesouro é gratuito.



Artigo originalmente escrito em novembro de 2019 (Edição N.º 77 - dezembro/janeiro)