O olhar gastronómico de Bento dos Santos

O gastrónomo português diz que a gastronomia da Madeira é cada vez mais uma razão para uma viagem.

A opinião de José Bento dos Santos sobre a Madeira não podia ser mais linear: Possui uma «extraordinária» gastronomia «para além de ser um paraíso afrodisíaco». O conceituado gastrónomo português, que é também produtor de vinhos, visitou a Madeira para conhecer melhor a gastronomia da ilha.

Fez-se acompanhar por homólogos de diversos países, todos membros da Academia Internacional de Gastronomia (com a sigla internacional IGA), da qual Bento dos Santos é vice-presidente, além de ser presidente da Academia Portuguesa de Gastronomia.

Do grupo, que em Maio passou pela Madeira, faziam parte os fundadores da IGA, oriundos de França, Espanha, Suíça, Itália e Inglaterra. A academia tem por missão «preservar os patrimónios culturais gastronómicos» e «o bom gosto na alimentação», sempre aliado à saúde.

A estadia serviu para experimentar e «conhecer em pormenor o Vinho Madeira e provar várias castas, para tentar perceber as suas diferenças». É um vinho do qual Bento dos Santos se diz apreciador e que também considera «extraordinário», quer seja como aperitivo, quer seja como finalização de uma refeição.

O gastrónomo ficou igualmente maravilhado com a qualidade encontrada nos produtos madeirenses, em particular no Mercado dos Lavradores, tendo enfatizado as cores e os conjuntos dos legumes, que classifica de «uma maravilha».

Para além ter provado o famoso milho e o inhame, Bento dos Santos ficou deliciado com a recnhecida espetada de vaca no espeto de louro, um dos pratos mais típicos da Madeira: «A carne era de um gosto extraordinário, um produto da terra» que, segundo o Presidente da Academia Portuguesa de Gastronomia, «compete com os melhores produtos». Uma refeição simples em que «os produtos são tão bons, que assim a tornam extraordinária».

Em relação à evolução da gastronomia e dos restaurantes da Madeira, tendo em conta a nova corrente de comida madeirense, feita por bons chefes, com bons produtos e melhores técnicas que fogem ao tradicional, Bento dos Santos mostra-se aberto à mudança e à natural evolução da gastronomia afirmando que «o que é moderno agora, irá ser tradicional dentro de uns anos. Há receitas que vão ficar na história e existem outras que vão passar», acrescentando ainda que «existem agora novas receitas, novos chefes, chefes talentosos que estão a encontrar receitas com bases nos nossos produtos, que são genuínos». Acerca dessa evolução e da criação de novas receitas, afirma que «construir uma receita é sempre algo com mérito. Um prato saboroso é um prato que faça sentido». Mas Bento dos Santo apela a que «não seja o nome a chamar a atenção no prato».

Estes novos pratos e conceitos podem funcionar como uma forte razão para uma viagem a Portugal e em especial à Madeira. Este crítico lembra que há alguns anos as pessoas vinham à Madeira «por causa do clima, flores, etc., hoje vêm já com os restaurantes marcados» pois a gastronomia hoje em dia «está na moda. Na televisão existem dezenas de programas» sobre gastronomia, dois deles apresentados pelo próprio Bento dos Santos.

Em relação aos restaurantes com estrelas no guia Michelin em Portugal, Bento dos Santos considera que não existem mais, unicamente por uma questão de investimento. Esse investimento, segundo o Presidente da Academia Portuguesa de Gastronomia, está de acordo com a capacidade que temos: «Nós temos excelente comida, excelentes vinhos, que se batem com grandes vinhos do Mundo. No entanto não somos reconhecidos por isso». É por essa razão que defende que o «reconhecimento é a palavra-chave quer nos vinhos, quer na gastronomia».

Em todo o país existem apenas 12 restaurantes no famoso guia, dois deles com duas estrelas. Na Madeira apenas existe um, o Il Gallo D'Oro, que também foi visitado por este grupo da Academia Internacional de Gastronomia.