O paraíso das aves

A sazonalidade das aves marinhas do Arquipélago da Madeira atrai visitantes de todo o Mundo, em busca da oportunidade de observar espécies raras.

Aves marinhas são aquelas que pertencem à ordem Procellariiformes, ou seja, são aves pelágicas, que se alimentam em oceano aberto e possuem narinas em forma de tubo que funcionam como dessalinizadoras. Assim, deste grupo excluem-se as gaivotas, guinchos ou garajaus, que são aves costeiras.

O arquipélago da Madeira tem 47 espécies de aves nidificantes, das quais 8 são aves marinhas. Estas passam a maior parte da sua vida no oceano e só vêm a terra para nidificar, daí que escolhem ilhas relativamente remotas e livre de predadores para suas colónias de reprodução. Ainda para evitar predadores estas aves só se deslocam para terra à noite, sendo, por vezes, possível ouvi-las ou ver as suas silhuetas quando se aproximam da sua colónia de reprodução.

As aves marinhas são migradoras e passam a sua estação não reprodutiva ou inverno no oceano, a maioria voa para o Atlântico Sul, umas até às águas do Brasil enquanto outras ficam-se pelo lado Este, na zona do Equador.

No arquipélago da Madeira a única espécie presente o ano inteiro é o Roque de Castro Oceanodroma castro que apresenta duas populações reprodutivas diferentes: a do Verão (de Abril a Outubro) e a do Inverno (de Outubro a Abril). Os Roquinhos ou Paínhos são aves de pequeno porte, com 35 a 45 gramas e que se alimentam longe da costa, de crustáceos, peixe pequeno e plâncton.

O Calcamar ou Paínho-de-ventre-branco Pelagodroma marina regressa às ilhas Selvagens, a sua colónia mais a norte do Atlântico, em finais de Dezembro. Quando se alimenta, tal como sugere o seu nome, saltita na superfície do mar, mantendo as asas abertas, quase parece uma bailarina! A sua observação ao largo da Madeira era muito rara até que a Wind Birds, empresa que se dedica à observação de aves, iniciou as suas viagens pelágicas onde agora é comum vê-lo.

No ano de calendário, as primeiras aves a regressarem às águas da Madeira são os Patagarros Puffinus puffinus, que em Janeiro se começam a observar junto à costa. Em inícios de Fevereiro já algumas Cagarras Calonectris borealis começam a nos visitar e, em Março, numa viagem pela costa da Madeira, a pardela que se observa em maior número e a maior em tamanho é a Cagarra.

Entre Março e Outubro, em toda a costa da Madeira, em zonas relativamente escuras, é possível ouvir o estranho chamamento da Cagarra: owa-owa-ahh. É a ave com o canto mais peculiar das aves marinhas e a sua maior colónia encontra-se nas Selvagens, com cerca de trinta mil casais.

O especial endemismo da Madeira, que regressa da sua migração em princípios de Março, é a Freira da Madeira Pterodroma madeira. Esta ave foi considerada extinta até 1969 e ainda hoje está ameaçada devido à sua reduzida população (cerca de 70 casais reprodutores), à perda de habitat e à predação por ratos e gatos. Ao contrário das outras aves marinhas que fazem os seus ninhos nas falésias costeiras, a Freira da Madeira nidifica no maciço montanhoso central, a 1.700 metros de altitude. A Wind Birds organiza viagens noturnas ao topo da montanha para escutar e tentar observar as silhuetas desta enigmática ave. Uma experiência única, a ser realizada entre Abril e Agosto!

A Alma-negra Bulweria bulwerii, uma ave totalmente preta, inicia as suas visitas ao ninho em finais de Abril, tornando-se então a segunda ave marinha mais comum nos nossos mares.

Muito parecida com a Freira da Madeira é a Freira do Bugio Pterodroma feae que nidifica nas ilhas Desertas e em Cabo Verde. A Freira do Bugio só regressa da sua migração de inverno entre meados e finais de Maio. Só os especialistas e ornitólogos experientes da Wind Birds, são capazes de distinguir, no mar, estas duas espécies de Pterodroma.

Atualmente a ave pelágica mais difícil de se observar no mar é o Pintainho Puffinus baroli, uma espécie endémica dos arquipélagos da Madeira e das Canárias. A população desta espécie tem diminuído nos últimos anos, causando grande preocupação. O seu período reprodutor é entre Dezembro e Maio.

Existem algumas aves marinhas que, apesar de não nidificarem cá, passam pela Madeira na sua migração para sul, entre meados de Agosto e meados de Setembro, como a Pardela-de-barrete Puffinus gravis e o Patagarro - o que nidifica no Norte da Europa, pois o da Madeira migra mais cedo, em Julho. Outras espécies menos comuns são a Pardela-preta Puffinus griseus, Paínho-de-Wilson Oceanites oceanicus e o Paínho-de-cauda-quadrada Hydrobates pelagicus.

A ave pelágica mais rara alguma vez observada nos mares da Madeira foi um Paínho-de-barriga-preta Fregetta tropica, uma espécie Antártica que, ao ser observada numa viagem pelágica da Wind Birds constituiu o primeiro registo confirmado para o Paleártico Ocidental.

O oceano é, sem dúvida, o maior habitat na Terra…