Rabaçal - Beleza escondida

Por entre montes e vales, o Rabaçal é uma das mais belas formas de ter um contato privilegiado com a natureza.

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Não faltam sítios na Calheta em que a beleza natural impera. Alguns ficam à distância de um viagem de carro. Para chegar a outros é preciso calçar as botas de montanha e aventurar-se pela natureza.

A zona do Rabaçal é um desses locais. A cerca de quinze quilómetros da vila da Calheta, a uma altitude perto dos mil metros acima do nível do mar, o Rabaçal é um dos maiores vales da Madeira e distingue-se pela diversidade dos verdes da sua vegetação.

Todos os dias, bem cedo no parque do Rabaçal, o fluxo de veículos aumenta de forma vertiginosa à medida que o tempo passa. Munidos de um mapa, de um guia ou de uma aplicação móvel, os primeiros aventureiros chegam ao local. Existem ainda aqueles que recorrem a uma das muitas empresas que prestam serviços de transporte e acompanhamento por guias conhecedores e preparados.

Todos, sem exceção, chegam com as expetativas em alta, curiosos por descobrir o que a natureza lhes reserva. Após uma longa descida, por uma estrada alcatroada, duas placas indicam os seguintes nomes: “Levada das 25 Fontes” e “Levada do Risco”.

A primeira tem uma distância de 4,6 quilómetros, com a estimativa de duração do percurso a ser de três horas. A segunda é um pouco mais curta, com 3 quilómetros, e a estimativa de tempo necessário para o seu término baixa para metade em relação à anterior. Em ambos os casos é necessário voltar para trás após a sua conclusão.

Com parte do seu percurso em comum, a sua função, ainda hoje, é a mesma de sempre, aquando se iniciaram a sua construção, em 1835: o transporte de água de zonas onde é abundante para outras onde existe em menor quantidade. Aproveitando a excelente capacidade de captação da precipitação por parte da floresta, essa água destina-se à irrigação e ao consumo. Ambas têm o seu início na Casa de Abrigo do Rabaçal, habitação que, até 1974, era uma das antigas casas atribuídas ao Governador da Madeira. Este ano, a antiga habitação será alvo de trabalhos de recuperação.

À saída, por um dos percursos recomendados, é impossível não se sentir pequeno perante a imponência das montanhas à volta do local. A caminhada desenvolve-se naturalmente. Entre curvas e contra curvas, a água, com ajuda do homem, venceu a montanha e criou o seu próprio espaço entre a paisagem. Por vezes, ela descobre o seu próprio caminho, saindo do percurso que lhe foi criado.

Entre a flora e a fauna endémica, os caminhantes encontram-se entre as duas direções, solidários com quem passa. Estamos em plena Floresta Laurissilva, elevada, em 1999, a Património Mundial da Humanidade pela UNESCO. Da flora, destacam-se as várias espécies do urzal de altitude. Na fauna, os mais sortudos podem dar de caras com o Pombo Trocaz, para além de vários peixes apressados que fazem da levada a sua casa.

Durante o percurso disputa-se um concurso silencioso pela foto perfeita. Turistas e residentes tentam imortalizar, através das suas objetivas, para sempre, aqueles segundos.

Os troncos, as pedras e a água fazem parte de um percurso pouco atribulado. Este é mesmo considerado como um dos mais acessíveis sendo normal ver famílias, com crianças, por ali. Após várias horas, o marulhar da água antecipa o final. Ambos, das duas levadas, são de cortar a respiração, um verdadeiro espetáculo da natureza.

As 25 Fontes ganharam o nome pelo número de quedas de água que confluem numa uma lagoa de várias cores. O barulho da água a correr enche-nos os ouvidos num sítio que pede silêncio e contemplação. Nos dias mais quentes a lagoa convida-nos para um mergulho entre peixes curiosos. Já na Levada do Risco o destaque vai para a cascata que dá o seu nome ao local, traçando a vertiginosa montanha.

Cascatas, fontes, lagoas, espécies únicas e vistas singulares. Há poucos sítios que possuem tanta beleza num só local. Essa singularidade está escondida e encontra-se apenas ao alcance dos mais curiosos e aventureiros.