A nova geração do Jazz

Além de um festival internacional anual, o jazz é ouvido ao longo do ano na Madeira, através de uma nova geração de músicos que cada vez tem mais lugar nos grandes palcos.

O jazz tem vindo a ecoar na impressão digital musical da ilha da Madeira. Um dos espelhos é o Funchal Jazz Festival, que na edição de 2017, juntou cerca de 6 mil pessoas no Parque de Santa Catarina, habituando o público a uma seleção refinada de artistas nacionais e internacionais.

Mas o impacto vai muito além. Ouve-se jazz na Madeira o ano todo e são várias as casas e artistas a homenagear o género musical nascido em Nova-Orleães. Para entender um pouco sobre a sua complexidade e como é vivido na ilha é necessário envolver-se na sua história.

Deu os primeiros passos na América e dá voz ao espírito de uma sociedade pós-Grande Depressão. Viajou até à Europa e aqui estabelece-se num contexto de superação da I Guerra Mundial. Não é por acaso que a “era do jazz” acompanha os “loucos anos 20”, a década da liberdade e prosperidade.

A Madeira não é indiferente a este frenesim. Na década de 1930 já se notava “uma forte presença de grupos de música ao vivo que se apresentavam, nos recortes dos diários e na publicidade dos espaços noturnos, como Jazz Bands”, aponta Vítor Sardinha, professor e investigador na área da música.

Ouvia-se e vivia-se jazz “nos Casinos Victoria, Pavão e Vigia, no Cabaret Tivoli ou nos Clubes Flamingo e Solar da Dona Mécia, sem esquecer o Hotel Savoy ou Hotel Reid’s’. Mas são as “Noites da Madeira”, entre 1945 e 1989, que ficam como grande exemplo.

Não é de estranhar que a tendência tenha perdurado no tempo. Saltou das salas de hotéis para o Clube de Jazz, em 1980, e em novos bares de música ao vivo, como o Salsa Latina, em 1990. Atualmente “está também nos clubes, bares, hotéis, no Casino da Madeira, no excelente Festival Internacional de Jazz do Funchal e no Curso de Jazz do Conservatório de Música da Madeira (CEPAM)”, onde são realizadas audições musicais, com entrada livre.

Para Vítor Sardinha, que tem vindo a ocupar-se da história do jazz na Madeira, trata-se de um género musical vivo: “As pessoas ouvem, tocam e falam dele mencionando atributos ou citando géneros, estilos, músicos e histórias à sua volta. Basta este pequeno argumento para sabermos do seu presente e futuro.”

Há também quem ainda conviva com o jazz como um estilo de vida. Luís Filipe Gonçalves, a frequentar o 2º ano do Curso de Jazz do CEPAM, acredita que “há mais jazz e mais entidades” a apostarem. Sente que “está na moda, não na perspetiva experimental”, mas que é mais divulgado. Refere ainda que “não existe um invólucro certo adquirido no curso, é necessário ter proximidade com o estilo musical e envolver-se”.

Para Diana Duarte, a frequentar igualmente o 2.º ano, existe jazz o ano todo, embora ainda com espaço para ganhar visibilidade. Na sua opinião a Madeira reúne as condições certas para a organização de festivais sem ser no verão.

Observa que apesar de haver “um certo estigma relacionado com o jazz que é aquele de estar bem vestido, beber um cocktail”, a realidade tem vindo a adaptar-se, sendo que não existe um espaço concreto para ouvir jazz, “não tem de ser elitista, é uma música de sentimento”, que tem tudo para “ressoar nos outros”.

Entre conversa, Diana Duarte menciona um “boom musical de nível geral”, o público procura algo mais “orgânico”, e sente-se mais recetivo a “outros tipos de música”. No caso do jazz, “é um estilo que requer muito trabalho e é feito na hora. As pessoas começaram a entender o nível de complexidade”.

O SCAT Music Club & Restaurant, quase embaixador do género musical na Ilha da Madeira, é um dos exemplos de investimento contínuo num programa rico. É aqui que anualmente, nos dias do Funchal Jazz Festival, acontecem as jam sessions, uma oportunidade para os jovens músicos madeirenses ombrearem com grandes nomes do jazz.