Música a Norte

Inserido nas celebrações dos 600 anos, este ciclo de música barroca percorre o Norte da ilha

Com data marcada de 9 a 31 de março, a realização deste ciclo de música barroca encontra-se integrada nas celebrações dos 600 anos do Descobrimento das Ilhas da Madeira e Porto Santo, e pretende cumprir diferentes objetivos.

Paula Cabaço, secretária regional do Turismo e Cultura, apresentou este ciclo no congresso “São Jorge – Memória e Futuro”, tendo a ligação com o período “Barroco” surgido da relação do rico património existente nesta freguesia: a Igreja Matriz de São Jorge.

A Secretária Regional Do Turismo e Cultura explica que este evento não só permite dar a conhecer ao público um período rico e notável da história da música, desde o século XVII ao século XVIII, como “descentraliza o acesso e este tipo de oferta aos concelhos de São Vicente, Porto Moniz e Santana”, afirmando estes concelhos tanto do ponto vista cultural como turístico.

Refere ainda que fizeram questão de “realizar os concertos em Igrejas emblemáticas” da Madeira, conjugando diferentes formas de expressão musical e dirigindo esta experiencia a toda a comunidade.

Carlos Antunes, programador artístico, explica que a referência a este período notável estende-se à contribuição do mesmo no que diz respeito à nossa “herança musical”, lançando as bases para o sistema musical que é usado nos dias de hoje.

Quanto ao nome do programa - “Música a Norte” – prende-se ao facto de todo este ciclo musical ser apresentado na costa Norte da Madeira – São Vicente, Porto Moniz, Ponta Delgada e São Jorge.

No programa apresentado será possível ouvir obras de grandes compositores internacionais, como o Stabat Mater de Pergolesi, apresentado junto com um Salve Regina de Alessandro Scarlatti, ambas obras para Soprano, Alto e Orquestra e interpretadas pela Orquestra Barroca de Mateus em instrumentos de época.

Obras de Vivaldi, Bach e Handel serão também ouvidas num concerto pelo Funchal Baroque Ensemble.

Estarão também presentes alguns notáveis compositores portugueses como António Teixeira, Carlos Seixas e Francisco António de Almeida, e interpretadas por dois grupos vocais dedicados à interpretação da polifonia Portuguesa: Polyphonos e Grupo Vocal Olisipo.

O primeiro concerto será em São Vicente, na Igreja Matriz De São Vicente, a 9 De Março pelas 20:00 Horas.

Entre as obras apresentadas, destaca-se os Responsórios das Matinas de São Vicente de António Teixeira.O ponto alto do concerto será a estreia moderna (primeira vez que será executado desde o séc. XVIII) da antífona Angelis suis de António Teixeira.


Segue-se o Porto Moniz, no dia 16 de Março às 20:00 horas, com o título “Barroco Católico e Protestante”.

O concerto demonstrará duas realidades distintas do barroco: a da tradição católica portuguesa e a da protestante alemã. A reforma de Martinho Lutero e a contra-reforma fez com que existissem percursos diferentes relativamente à celebração litúrgica. A música seguiu caminhos igualmente distintos: “Na realidade portuguesa, a tradição polifónica da música renascentista (prima pratica) continuava a marcar muito do que se fazia, ao passo que na Alemanha protestante surgiram outras realidades mais ligadas a prática dos corais e salmos cantados pela comunidade das igrejas”.

Na igreja do Bom Jesus, na Ponta Delgada, o concerto terá lugar a 24 de Março, às 16:30, com o tema “Fé, devoção e poética musical no barroco do séc. XVIII”

Os compositores desta época pretendiam, através da música sacra, proporcionar aos crentes uma ligação mais intima com Deus através da vivificação da Sua palavra. Esta conceção é transversal a toda a música e arte barroca de representação dos sentimentos e emoções humanas a que chamamos Teoria dos Afetos e Retórica Poético-musical.  

A música cantada associa-se aos escritos bíblicos ou poético-religiosos, servindo de veículo de transmissão dos sentimentos ligados às palavras escritas, proporcionando aos ouvintes um estado de total envolvimento místico. O mesmo aplica-se à música instrumental, que tem a função de preparação do ambiente afetivo devocional.
O concerto conta com harmonias das Cantatas de Bach e melodias do Messias de Handel e do Domine Deus de Vivaldi.

A igreja Matriz de São Jorge encerra este ciclo de concertos, no dia 31 de Março, às 18:00 horas.

De pé, a mãe dolorosa junto da cruz, lacrimosa, via o filho que pendia – é desta forma que começa a obra – o Stabat Mater, de Pergolesi que será a peça central deste programa. Esta é uma das obras mais conhecidas do Barroco, transmite de forma comovente o sofrimento de Maria perante a crucificação de seu filho Jesus, que será apresentada pela primeira vez na Madeira neste concerto, em instrumentos de época (barrocos).

Serão ainda apresentadas outras obras, uma de carater mariano: o Salve Regina de Alessandro Scarlatti, para duas vozes e orquestra, e duas instrumentais: um concerto de Vivaldi e uma sinfonia de Avondano que pretendem criar um momento exclusivamente instrumental, remetendo os ouvintes à reflexão e audição dos textos sacros das obras vocais.