A nova vida da Ponta do Sol

Uma das localidades mais antigas da Madeira é um dos locais mais dinâmicos da cultura e lazer na ilha, sobretudo no Verão.

Quando se olha apenas para a estatística, poucos acreditariam que uma localidade integrada num concelho com pouco menos de 9 mil habitantes podia ser um dos centros mais dinâmicos da cultura e do lazer da Madeira. Mas a Ponta do Sol tem esse mérito.

Encaixada num vale apertado na zona oeste, é uma das localidades mais antigas desta ilha. Foi povoada logo nos primeiros anos da colonização, a partir de 1425 e a vila, onde quase todo o este movimento acontece, foi criada em 1501.

Desde então a Ponta do Sol nunca deixou de ser um lugar influente, onde a prosperidade económica e a beleza da paisagem, associadas ao clima ameno, lhe permitiram estar sempre nos lugares cimeiros da História da Madeira.

Mas apesar das famílias tradicionais e dos factos históricos, a Ponta do Sol vive hoje uma nova realidade e tem vindo a afirmar-se como um polo cultural e turístico. A razão para esta afirmação tem a ver com a oferta hoteleira diferenciada, mas também com os eventos e espaços de lazer, ao longo de todo o ano e sobretudo no Verão.

Para esta afirmação tem contribuído em muito a Estalagem da Ponta do Sol, uma unidade hoteleira implantada numa antiga quinta, que é hoje um design hotel que olha a associação e entre o turismo e a cultura como uma forma de estar no mercado. Além de ser dotada de uma vista magnífica para o oceano, o hotel é responsável por alguns dos eventos que projectaram a imagem desta localidade fora de portas.

No Verão são os Concertos L, com música alternativa de vários pontos do Mundo. No resto do ano é o Micro Film Festival, realizado no antigo cinema da Ponta do Sol, um edifício de Arte Déco, ou ainda o Madeira Dig, um festival de arte digital, em cuja organização a "estalagem" também participa.

O hotel também ajudou recentemente a criar uma associação cultural com o objectivo de reabilitar economicamente o centro da pitoresca vila, através da criação de um polo de indústrias criativas e de residências artísticas.

A estes eventos juntam-se outros, como festas populares, concertos e até um festival de folclore que fazem parte do cartaz de iniciativas da Câmara Municipal da Ponta do Sol e que também contribuem para levar as pessoas ao concelho.

Estes eventos, pela projecção que apresentam, têm funcionado como instrumento de promoção para locais e visitantes. As características dos hotéis fazem o resto. Além da Estalagem da Ponta do Sol a avenida marginal tem outras duas unidades, uma delas, o Enotel, foi construído de forma a simular as fachadas tradicionais desta pequena avenida. O outro, o Hotel da Vila, é inspirado no espírito dos hotéis de cidade da Europa e resulta da adaptação do antigo presídio.

O mar, com o seu azul inconfundível, perde-se de vista no horizonte. A praia é uma opção em grande parte do ano, com as temperaturas da água a fazerem inveja a quase toda a Europa. O pequeno cais é um dos ícones da paisagem. A vila é o principal legado da História e da prosperidade económica. Os edifícios foram reconstruídos ou construídos de raiz ao longo dos séculos, com casas grandes e fachadas de diferentes épocas, mas a configuração das ruas estreitas e inclinadas permanece mais ou menos inalteradas, que a câmara municipal se encarregou de fechar ao trânsito.

A Rua João Augusto Aguiar é uma das que tem contribuindo para o lazer. Alguns bares apostaram em conceitos diferentes, cosmopolitas. Um bom exemplo é o The Old Pharmacy, um espaço que além de souvenirs, aposta em produtos portugueses de qualidade, chás, vinhos, tapas e sobretudo na criação e um bom ambiente.

Um pouco mais acima, há um Centro Cultural na casa dos antepassados do romancista norte-americano John dos Passos. O avô do escritor era oriundo da Ponta do Sol e emigrou para os Estados Unidos no século XIX. Desde então a família e o próprio escritor nunca perderam a ligação com a Madeira. Além de promover o estudo da obra o escritor, o centro é também um local de diversos acontecimentos culturais ao longo do ano.

Fora da vila uma dos locais mais procurados no Verão é a Praia dos Anjos, com vista para o pôr-do-sol e onde funciona o Zion Project, uma iniciativa que junta a dinâmica cultural ao puro lazer em ambiente de chillout. Esta praia é um dos locais mais procurados pelos madeirenses no Verão.

Até ao século XVI os terrenos férteis e as condições do clima tornaram a Ponta do Sol e toda a zona oeste da Madeira uma área ideal para o cultivo da cana-de-açúcar. A produção do chamado ouro branco foi o motor da economia desta localidade de toda a ilha. Para aqui vieram escravos trazidos de África, que cultivaram as plantações de cana-de-açúcar, que ajudaram a financiar a construção da vila e todos os descobrimentos portugueses.

Quando a partir do século XVII o cultivo da cana-de-açúcar deixou de ser uma actividade tão rentável, a Ponta do Sol já tinha acumulado famílias com poder económico influência política suficientes, para manterem esta localidade sempre na primeira linha de influência. O facto de aqui haver desde muito cedo um tribunal, uma cadeia, ou um alfândega tornaram este um ponto de paragem obrigatório.

Mas para quem não quer participar nos eventos, pode simplesmente deixar-se ficar e contemplar o mar ou a paisagem, sentado na esplanada de um café ou de um restaurante. Em redor apenas o som do mar e a luz do sol, já que o nome desta localidade, Ponta do Sol, não foi escolhido por acaso.