Perfil: Dino Gonçalves

Estudou arquitectura e no início queria voltar para casa. Hoje, Dino Gonçalves, é um dos mais bem sucedidos designers de interiores de Portugal.

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Dino Gonçalves é um exemplo de que nós não nascemos apenas para um só ofício. Descreve-se como um “arquitecto que faz design de interiores” pois não gosta da palavra decorador porque “decorador qualquer um pode ser”.

Nascido no Funchal em Março de 1977, numa família de três irmãos, desde criança tinha um sonho: ser pintor. Dino Gonçalves estava longe de imaginar aquilo que o futuro o reservava. Acabou o secundário e, de acordo com o seu pai, seguiu arquitectura.

Chegou a Lisboa com dezoito anos. Levou consigo vontade de aprender mas também muitas saudades de casa. Em entrevista à Essential Madeira, revela que a adaptação à capital portuguesa foi “horrível”. No primeiro ano veio dezoito(!) vezes à Madeira, numa luta acesa com os pais: “Eu queria desistir da faculdade mas os pais não deixavam, portanto, toda a vez que vinha para a Madeira eles mandavam-me para Lisboa”.

Terminou o primeiro ano com notas “óptimas” após ter dado uma oportunidade a Lisboa: “Eu pensei, eu vou dar aqui o primeiro ano e se não conseguir eu vou mesmo voltar para a Madeira”.
Durante a faculdade, ajudou em decorações de festas e de montras e até em figuração para telenovelas, tudo para ganhar “trocos” que o ajudassem a melhorar a sua qualidade de vida em Lisboa.

Passados cinco anos, Dino Gonçalves saía da Universidade Lusíada de Lisboa como um jovem arquitecto. Sem ambição de voltar à terra que o viu nascer, saía do curso com a certeza que queria ficar em Lisboa e dar prioridade à decoração de interiores e não tanto à arquitectura.

Após o curso, Dino Gonçalves estagiou num atelier de arquitectura que curiosamente “trabalhava para as grandes obras da Madeira naquela altura”. Apesar de guardar boas recordações do estágio, no último dia fez uma promessa: “(…) Que nunca mais ia trabalhar para ninguém”.

Começou a trabalhar por conta própria com o auxílio de cartões pessoais e do computador. Foi conhecendo pessoas, criando amizades e contactos. Apostou ainda mais na sua formação. Após várias pós graduações, Dino Gonçalves estava pronto para dar o salto.

Foi em 2003 no Casa Decor, programa em que “as pessoas eram escolhidas por uma equipa e eles escolhiam os decoradores top do momento”, que Dino escolheu apostar a sério na decoração de interiores.

“Em 2003 fui lá e ofereci-me para fazer a decoração e na altura não fui aceite, e eu sou tão chato e maçador que durante dois meses fui lá quase todas as semanas a dizer que queria fazer”. A persistência deu resultados: “Havia um decorador que ia lá fazer um espaço e que caiu e partiu a perna e na véspera não havia ninguém para ficar”. Dino foi convidado e ficou com “o maior sítio da casa”.

“Pensei: É agora que eu vou começar a mostrar o meu trabalho”. Então o primeiro trabalho público foi num espaço “gigante, numa Casa Decor, num palácio antigo em Santa Catarina”. Dino tinha uma enorme responsabilidade sobre seus ombros. Foi então que fez algo impensável no dia da inauguração, “uma coisa muito atrevida”: “Pensei… tenho que fazer alguma coisa nova para a imprensa ver que há uma pessoa nova a fazer coisas diferentes”. A solução foi encher a casa “com dez cães galgos persas que andavam no meio das pessoas”.Com uma crítica positiva, voltou nos dois anos seguintes, antes da extinção do programa, sempre surpreendendo com os elementos escolhidos.

Desde então, trabalhos não faltam. Neste momento encontra-se a restaurar um hotel em Luanda e uma casa no Monte Estoril. Está também responsável pela decoração do Palácio Cadaval em Évora, onde irá reproduzir o natal de antigamente, tal como a parte floral do jantar do fim do ano no Reid’s.

Seguiram-se muitos episódios mas há um que não lhe sai da memória, o dia em que foi convidado para ir “a uma festa lá fora”. Em em 2011, foi a uma festa no Mónaco: “Lembro-me de ter ido a esta festa e estar na mesa sentado num lugar fabuloso” e lembrasse que “a decoração era um nojo”. Falou com uma princesa do Mónaco dizendo “Isto é tudo muito bonito mas a decoração das mesas é um pavor”. Por isso sugeriu: “Para o ano venho cá e faço isto melhor”. Em 2012 foi convidado para decorar o mesmo baile com sucesso.

Dino descreve-se como “organizado” e “atrevido” e vê nos decoradores espanhóis e brasileiros as suas maiores fontes de inspiração, pelo “atrevimento” dos primeiros, e pelo “exagero nas criações” dos segundos.

Dino já fez um pouco de tudo e trabalha naquilo que lhe dá mais prazer. Revela que não tem grandes sonhos mas que gostava de um dia “fazer um trabalho qualquer em Itália ao pé do Lago de Como, em Capri, um lugar assim divertido” tal como “mais coisas na Madeira”, termina com um sorriso no rosto.