Cerveja com toque de malvasia

Chama-se Plantageneta a cerveja artesanal envelhecida num barril de malvasia e cujo nome é inspirado no Duque de Clarence.

CPlantageneta

 

Jorge Plantageneta foi um dos muitos nomes envolvidos na Guerra das Rosas, uma série de lutas dinásticas para a sucessão no trono de Inglaterra, que opuseram as casas de Iorque e Lancastre entre 1455 e 1485. Descrito como um homem ambicioso, Jorge, que era Duque de Clarence, teve um percurso político sinuoso, que acabou com o seu assassinato na Torre de Londres, em fevereiro de 1478.

Mas a sua morte ficou para a História pela versão dramatizada por William Shakespeare, que na peça ‘Ricardo III’ encena a morte do Duque de Clarence por afogamento, a pedido deste, num barril de malvasia, uma das castas do vinho Madeira.

Esta versão dramatizada é uma das muitas histórias que ainda hoje se contam para mostrar a universalidade do Madeira. E por causa dessa associação, o nobre inglês deu agora nome a uma cerveja, que faz a síntese com o vinho: a Plantageneta.

É uma cerveja artesanal, que resulta da união de esforços entre os produtores Oitava Colina, a empresa de vinho Madeira Justino’s e a distribuidora local Vilhoa Craft Beer Dealers, de quem partiu a ideia.

É uma barley wine, um tipo de cerveja nascido na Inglaterra, uma espécie de vinho de cevada. É um strong ale com uma percentagem de 11,5 graus de álcool, que estagiou três meses nos barris da Justino’s e outros três meses em garrafa. O criador, Fernando Gonçalves, cervejeiro na Oitava Colina apresenta-a como “cheia, encorpada, rica, onde o vinho Madeira está muito presente. Tem notas de nozes, passas, figos. É extremamente complexa.

Comercialmente é apresentada como cerveja reconfortante, de inverno. Fernando Gonçalves reconhece que a sua criação foi “deveras complicada, mas que evoluiu de uma maneira magistral. É uma cerveja que envelhece bem.” Durante os três meses em barricas de Madeira ganha paladar de vinho Malvasia, com notas de frutos secos e final sólido.

 

 

Além do toque dramático no nome, a Plantageneta é o culminar de um ano de trabalho, desde a ideia, ao resultado final.

Diogo Abreu da Vilhoa Craft Beer Dealers explica que foi por ser curioso que lançou o desafio. Uma persistência reconhecida por Juan Teixeira enólogo da empresa Justino’s, que aceitou contribuir com os barris para o envelhecimento de uma cerveja avermelhada, que faz lembrar o malvasia “ao início de boca” e amarga no final “devido ao lúpulo”.

Para Diogo Abreu trata-se também de “paixão, de ego, e de fazer algo em que nos sintamos realizados”. Mais do que o negócio “é a possibilidade de quebrar alguns preconceitos da cerveja”.

Não tem prazo de validade e tem um potencial de envelhecimento bastante grande. Nesta experiência inicial foram produzidos mil litros. Cada garrafa chega ao mercado com o valor de € 7,5.

Após este teste é a vez de o enólogo da Justino’s lançar o desafio: “Se o Diogo estiver interessado e a Oitava Colina também, poderemos falar em mais barricas, mais produção”. Isto permite aumentar a visibilidade da cerveja, “porque mil litros será muito pouco para os consumidores e às vezes é muito bom ter produtos que escasseiam que são raros, mas também é preciso dar oportunidade aos consumidores de apreciarem o produto”.

“Temos vários Madeiras que poderão dar outro impulso à cerveja que fermenta em barrica”, esclarece Juan Teixeira. A Justino’s está disposta a apoiar. Para já a escolha foi malvasia, mas no futuro pode passar por sercial, “um vinho mais seco, mais ácido, com mais notas cítricas”.