O mel-de-cana, uma das iguarias mais características da gastronomia madeirense, olha para o rótulo biológico como uma oportunidade.
Todos os anos em abril, a Fábrica do Ribeiro Sêco transforma cerca de cem toneladas de cana-de-açúcar em mel-de-cana. Parte dele é biológico, uma aposta relativamente recente.
Resulta de um desafio lançado por João Melim, um dos responsáveis da Fábrica do Ribeiro Sêco, para a idealização de um produto mais sustentável e amigo do ambiente.
“Queríamos ter um produto diferenciado na ilha, que tivesse em conta as questões ambientais e que fosse mais saudável para os consumidores. Neste momento, somos os únicos a produzir este tipo de mel”, explica João Melim.
A grande diferença entre o mel-de-cana biológico e o clássico não está tanto no sabor, mas sim no terreno onde a cana-de-açúcar é cultivada.
Para o mel-de-cana obter o rótulo de biológico, a cana-de-açúcar utilizada tem de ser proveniente de agricultura biológica, num local onde os métodos de cultivo preservem o solo, o meio ambiente e a biodiversidade, sem recorrer a fitofarmacêuticos, como fertilizantes e pesticidas sintéticos.
Já na altura da laboração, momento em que a cana-de-açúcar é transformada, João Melim revela que não há nenhum segredo. O processo, é idêntico à produção de mel-de-cana clássico
As canas começam por passar pelos engenhos até ser obtido uma espécie de sumo, a guarapa. Seguem-se vários processos de purificação e filtração até chegar à cozedura e concentração. Depois, o mel-de-cana está pronto para entrar no reservatório, de onde saíra para as embalagens. Todo este ciclo demora cerca de 21 horas.
No entanto, há apenas um ponto a salvaguardar. “Quando damos início ao processo de laboração da cana-de-açúcar, começamos primeiro com a biológica então depois passamos para a convencional. Assim asseguramo-nos que não existe contaminação”, esclarece João Melim.
Apesar de uma maior consciencialização para as questões ambientais que se tem vindo a assistir, João Melim afirma que é difícil que o futuro do mel-de-cana seja apenas biológico.
A verdade é que “as vendas têm aumentado e a procura tem crescido”, e a própria Fábrica do Ribeiro Sêco tem tentado que haja uma canalização para a procura do mel-de cana-biológico, revela João Melim. Para que a iguaria biológica ultrapasse a clássica, demorará algum tempo que será difícil de prever. Mas em nome da sustentabilidade, é esse o caminho a percorrer