Regresso ao centro das cidades

Depois de décadas de abandono os centros das cidades são cada vez mais encarados como locais ideais para habitação. O investimento para pela recuperação e adaptação de prédios.

  
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As cidades ao longo dos tempos, e como qualquer outra “entidade”, também evoluiram, transformaram-se e adaptaram-se, tendo em conta as características físicas, naturais, que as rodeiam e as gentes (os humanos), que nelas vivem.

Actualmente os centros das cidades padecem de alguns males, em consequência dos movimentos de expansão que ocorreram, para áreas mais periféricas e “limpas” de construção, sítios onde se podiam erguer empreendimentos sem grandes constrangimentos de pré-existências e de falta de espaço e com terrenos mais baratos.

Essa onda expansionista, principalmente na habitação, levou a que os investimentos, na sua grande maioria incidissem sobre essas periferias, descurando as áreas mais antigas e centrais, onde os que investiam, faziam-no primordialmente na vertente comercial e de serviços. Assistiu-se a uma grande terciarização, sem o acompanhamento proporcional no sector da habitação.

A procura por habitações novas, principalmente por agregados familiares mais novos, mais adequadas aos novos tempos, o desejo de possuir uma habitação e deixar a situação de arrendamento, o deixar de viver com os pais, conjugados com a facilidade de obtenção de crédito, leva a que essa movimentação seja ainda mais forte, provocando uma crescente desertificação nas zona históricas e ao consequente aumento de edifícios vazios ou “menos cheios”.

A idade da população residente nos centros históricos sobe, em consequência da saída dos mais novos. Certos tipos de comércios fecham, assim como alguns serviços levando ainda a uma maior sensação real de vazio, restando apenas as memórias e os edifícios vazios de vida. Como consequência, acentua-se a degradação de alguns dos edifícios, contribuindo para uma má imagem urbana.

Felizmente, desde há algum tempo, que se nota alguma preocupação em que esta situação não se agudize, e tem havido alguma vontade por parte dos decisores, e dos investidores para que tal não aconteça. O fim das grandes facilidades de obtenção de crédito tem levado a mercado de arrendamento mais ágil e apetecível, e que poderá levar a que muitos proprietários queiram investir na modernização, manutenção e recuperação dos seus imoveis.

A recuperação de imóveis está prevista no decreto-Lei nº 307/2009 de 23 de Outubro, que regulamenta a reabilitação urbana e na Lei nº32/2012 de 14 de Agosto. Por outro lado, a existência de programas de apoio no Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, entre os quais o Programa de Reabilitação Urbana para Arrendamento Habitacional, complementam e tentam motivar ainda mais os investimentos nas áreas de reabilitação urbana.

A aposta em alguns equipamentos, construídos de raiz, ou preferencialmente reabilitando velhos edifícios, poderá trazer mais movimento, mais vida, como o caso de residências de estudantes, de hotelaria tradicional, ou em unidades de alojamento mais “trendy”, nomeadamente os hostels, e de alojamento local, que juntamente com outros factores, poderão tornar mais apetecível os investimentos a nível de determinado tipo de habitação, dado também haver outras dinâmicas na forma de ocupação dessas unidades de habitação.

Mas nem todas as zonas dos centros históricos, ou da baixa da cidade, necessitam de se enquadrar nas áreas de reabilitação urbana, ou por os níveis de degradação não serem muitos, ser só ou outro caso, ou melhor ainda não necessitarem de todo, em virtude de terem conseguido ao longo do tempo manterem uma atratividade que impediu esse problema, ou os decisores entenderem que a solução não passaria por essa “figura”.

Mas o que se observa é que mesmo assim, tem-se assistido a sinais, de que a situação melhore, dado que existem alguns investimentos nacionais e estrangeiros em termos recuperação e reabilitação de edifícios, com componente habitacional, em zonas da baixa da cidade, onde já não era muito usual acontecer, como também assistiu-se à compra de unidades hoteleiras e sua recuperação.

Esses sinais podem indicar o início de um movimento maior, mais forte, que procure o investimento nas zonas centrais e que não esqueça a componente habitacional, visto que as oportunidades existem e a preços atractivos.

Vantagens não faltam para o investimento nas zonas histórias. Têm sido sempre zonas que se valorizam e que possuem uma grande centralidade em relação à cidade, com tudo o que isso implica, nomeadamente a proximidade aos locais mais antigos, como edifícios, praças, e outros espaços públicos históricos. São servidas de infra-estruturas, possuem uma vasta gama de comércio e serviços, para além claro, do clima, da gastronomia, da cultura e a hospitalidade das gentes da Madeira.

Nos núcleos históricos da Sé e de Santa Maria, ou em ruas como a Fernão Ornelas, 31 de Janeiro, 5 de Outubro, Netos ou a Avenida Arriaga existem espaços de habitação que entretanto foram criados ao longo dos anos, assim como várias oportunidades de prédios para reconstruir. O movimento de pessoas para o centro da cidade do Funchal é ainda ténue, mas o investimento neste sector da imobiliária é visto como seguro.