A igreja do Colégio

Há quem a considere a mais bela igreja da Madeira, mas é, sem dúvida a que mais presta homenagem ao barroco.

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A Igreja de São João Evangelista, mais conhecida por Igreja do Colégio, localiza-se na Praça do Município, no Funchal. Faz parte do Colégio dos Jesuítas, que foi até ao século XIX o maior conjunto edificado da cidade.


A igreja, cujas obras começaram em 1629, apresenta o denominado estilo maneirista, seguindo o esquema normal da ordem religiosa a que pertencia, a Companhia de Jesus, que tinha como modelo a “casa mãe”, a Igreja de Il Gesu, em Roma.

Apresenta uma planta longitudinal, com transepto inscrito, capela-mor pouco profunda e com altares laterais. Adossada, ao lado esquerdo, encontra-se a sacristia.

O interior é dominado pela grande nave que possui um teto, pintado em “trompe l’oeil”, como também a abóbada da capela-mor, com belíssimas imagens alusivas à Companhia de Jesus, paredes com frescos representando os evangelistas, sendo iluminada pelas janelas rectilineas da fachada principal.

Possui um coro alto, com um órgão, capelas intercomunicantes, decoradas com azulejos, pinturas e retábulos em talha dourada.

O gosto barroco predomina no interior da Igreja de São João Evangelista. É o exemplo mais expressivo desta arte nas igrejas da Madeira, seguindo a ideia de que a arte deve preencher a totalidade do espaço, um barroco total.

A talha dourada é profusamente utilizada nos seus retábulos. Um dos exemplos de maior destaque é a capela das 11 mil virgens, cujo retábulo é atribuído ao entalhador madeirense Manuel Pereira.

Não há muitos anos em obras de recuperação e conservação, “destaparam-se” nas paredes belos frescos, que durante anos tinham estando escondidos sob camadas de cal, que nos impediam de os contemplar.

Todos os anos durante o festival de órgãos da Madeira podemo-nos deliciar com o som magnífico do órgão aí instalado pelo Mestre Dinarte Machado.

A fachada principal, típica do maneirismo jesuíta, possui um corpo tripartido pelos vãos, ladeada pelas torres sineiras à mesma altura, solução apresentada também em outros templos da mesma ordem, a saber a Igreja do Colégio em Ponta Delgada, Angra do Heroismo e Horta, todas nos Açores e Elvas.

O Colégio dos Jesuítas do Funchal foi o primeiro na expansão portuguesa e serviu de modelo para outros pontos do império. A sua construção resulta de um ataque de Corsários ao Funchal, em 1566, em que para conforto espiritual à população são enviados para a ilha os primeiros jesuítas, iniciando um importante papel de formação, até então praticamente inexistente na ilha.

A construção do complexo terá começado pela torre, que apresenta uma arquitetura militar, da autoria de Mateus Fernandes, mestre das obras reais, enviado para o Funchal na sequência do ataque corsário, com a missão de fortificar a cidade.

Mateus Fernandes elabora um projeto para um colégio que acabará por ser revisto pelos arquitetos da Companhia de Jesus. Mas a construção da torre avança, em 1574. Ainda hoje o corpo volumoso destaca-se do conjunto. É um dos locais da igreja aberto a visitas.

O edifício, separado da Praça do Município, por um alto embasamento, formando um adro gradeado, confronta-se com o antigo Paço Episcopal.

Há seis anos que a Associação Académica da Universidade da Madeira promove visitas guiadas à igreja. São guiadas por estudantes e voluntários de diversas nacionalidades e permitem ter um conhecimento mais vasto da importância da Igreja de São João Evangelista para a religião, para a arte e para a história na Madeira.


Artigo originalmente escrito em fevereiro de 2020. (edição nº. 78 fevereiro/março)