Das toalhas de mesa e dos lençóis o Bordado Madeira saltou para as passerelles pela mão do criador de moda norte-americano Jeff Garner.
Na Embaixada dos Estados Unidos da América em Lisboa, os convidados distribuíam-se por algumas salas transformadas em passerelle. O lugar, improvável, foi o palco para a apresentação mundial de uma coleção de moda que resulta de uma parceria, igualmente improvável, entre a Madeira e o criador de moda norte-americano Jeff Garner.
Na base desta simbiose está o Bordado Madeira, produto artesanal, que desde o século XIX dá fama desta, em alguns mercados internacionais. Mas o tempo das toalhas de mesa e do enxoval que durava toda uma vida, há muito que ficou para trás. A essa componente tradicional a Madeira quer juntar uma aposta na modernidade. Jeff Garner foi uma das portas de entrada, em particular num mercado como os Estados Unidos, onde a Madeira é conhecida, fruto de relações comerciais velhas de séculos e de episódios importantes, como o brinde à independência do país, feito com Vinho Madeira.
A par do vinho o bordado é um embaixador da Madeira, que precisa ganhar espaço, para manter viva a tradição deste trabalho manual que já ocupou cerca de 100 mil mulheres na ilha. Hoje serão à volta de 300. Quando nasceu, há quase 200 anos era aplicado na moda. Esta nova fase é quase um regresso às origens.
‘Atlântico’ é o nome da coleção, a mais recente aposta no processo de modernização, que tem envolvido parcerias com marcas internacionais e o esforço de algumas empresas produtoras. Jeff Garner descreve à Essential que a coleção define “um passado de exploração marítima. Os tons de azul índigo misturados com os amarelos do malmequer para criar verde-azulados juntamente com tons de esmeralda e as rendas marfim bordadas à mão dos linhos irlandeses antigos adoram esta coleção da Madeira.”
Alguns dos coordenados que foram mostrados nas salas da Embaixada dos EUA em Lisboa foram criados a partir de peças únicas de tecido, como toalhas de mesa. “Às vezes o tecido vem em primeiro lugar e ajuda a moldar o vestido”, explica o criador. E “um dos vestidos de baile é feito de uma toalha de mesa que tinha levado seis meses a bordar”.
O lançamento desta coleção satisfez as expetativas do IVBAM. O objetivo, segundo a presidente, Paula Jardim, era “levar o Bordado Madeira para além dos seus horizontes, alcançando cada vez mais mercados internacionais”. A ideia é que o bordado seja visto como “um produto artesanal de grande prestígio, luxo e qualidade que é de todo o interesse preservar”, refere.
De Lisboa a coleção seguiu para Copenhaga, foi depois apresentada em Los Angeles, fotografada em Charleston e seguiu para a Perth Eco Australia Fashion Week.
Jeff Garner diz que o público tem reagido bem: “Acho que toda a gente ficou inspirada por ver o Bordado Madeira num novo conceito”. Mas esta é uma coleção promocional. Pode a moda ser uma solução para este produto? O criador de moda considera que o bordado tem “um tecido único, é feito à mão e tem uma história bela”, ingredientes que ajudam ao sucesso.
O tempo foi um dos desafios: “apenas três meses para preparar 30 coordenados para a passerelle e sem orçamento”. O trabalho foi feito com o propósito de promover.
Para preparar esta coleção Jeff Garner visitou a Madeira. Foi aqui que se inspirou nas cores e se apaixonou “pela beleza dos detalhes” do processo de produção. “Reuni todos os tecidos que consegui e voltei para o Tennessee para começar a viagem” de criação da “Atlântico” que a Prophetik, a sua marca, apresentou ao mundo nas salas da embaixada dos Estados Unidos em Lisboa.