Ataque alemão à Madeira: 100 anos de história

Foi em 1916 que a baía do Funchal se encontrava sob ataque alemão pela primeira vez.


Não muito longínquo, o séc. XX distingue-se pelos avanços tecnológicos e jogos de poder político. Mais especificamente em 1916, ano em que se debatia, em França, a quem se atribuía a invenção da pólvora, a I Guerra Mundial marcha em direção a Portugal. É nesse mesmo ano que, pela primeira vez, a baía do Funchal sofre um tremendo golpe.

Dia 3 de dezembro perfaz 100 anos que a Ilha da Madeira assistiu à entrada do inimigo pela sua enseada, à chegada do submarino alemão U-38. Nas águas madeirenses encontravam-se fundeados três navios: “Dacia”, um vapor inglês, a canhoeira francesa “La Surprise”, e o vapor Kanguroo, igualmente francês.

A baía do Funchal representava o cenário perfeito para receber navios em tempos de paz. Em contrapartida, num cenário de guerra, os ventos fortes e a inexistência de um porto de abrigo, colocavam a ilha numa posição vulnerável. É neste contexto que a cidade sofre o ataque dos alemães.

Foi por volta das 8:30 horas da manhã, que os três navios das forças aliadas e uma barcaça portuguesa de transporte de carvão, atracados no Porto do Funchal, foram bombardeados sob ordens de Max Valentiner, mais tarde recompensado pelo feito.

Do torpedeamento surgem prejuízos materiais e humanos. Para além do afundamento das embarcações ali posicionadas, as perdas humanas chegaram às 41 pessoas, dos quais, 33 membros de tripulações estrangeiras e 8 portugueses trabalhadores da empresa Blandy, que detinha o negócio do carvão.

Após submersão do Dacia, La Surprise e Kanguroo, o submarino alemão procede ao bombardeamento da cidade do Funchal, que duraria até às 11:00 da manhã. Os cerca de 50 disparos, a uma distância de 2 milhas, tinham como alvo a Bateria de artilharia do Casino da Quinta Vigia e do Forte de São Tiago, a Estação do Cabo Submarino e os geradores de eletricidade.

Outros locais conhecidos por nós e parte do nosso quotidiano sofreram danos nessa irreversível manhã. A Rua da Queimada de Cima, a Rua do Bispo, a Calçada de Santa Clara, a Quinta Vigia, o Cemitério das Angústias, o coreto do Jardim Municipal e a casa Blandy não ficaram imunes aos destroços.

É neste clima de medo, que se instala o pânico na pacata e deslumbrante cidade do Funchal. Sob ordem do comandante do Regimento de Infantaria 27, é determinado recolher obrigatório. As famílias abandonam as suas casas e refugiam-se nos subúrbios: Monte, São Roque, São Martinho, Santo António, Caminho do Palheiro, entre outros. O comércio fechou, as ruas foram patrulhadas toda a noite e a cidade adormeceu por umas horas.

Em honra às vítimas do ataque à Ilha da Madeira e à Grande Guerra, um ano depois, o artista Francisco Franco cria um memorial erguido no Cemitério das Angustias, antigamente localizado no atual Parque de Santa Catarina.

Hoje, no Cemitério de São Martinho pode observar-se a seguinte inscrição: “o clarim da manhã cantava na baía, o crysântemo abria à beira do balsedo…e coriscou o raio e matou a alegria, a violência, (o fragor), imortal, de um torpedo!”, do ‘suave responso’ Jaime Câmara. Uma expressão artística dramática, para relembrar os tormentos e a vitória da manhã de 3 de dezembro.