A vila cosmopolita

Um ambiente vibrante e cosmopolita define a Ponta do Sol, uma vila onde confluem vários mundos

Chegar à Ponta do Sol numa sexta-feira ao final do dia é um misto de impressões. Se por um lado, em pleno coração da majestosa vila, se ouve o ecoar das ondas do mar, num ambiente pautado pela tranquilidade, por outro lado, ao calcorrear o centro encontramos a Rua Dr. João Augusto Teixeira, com as suas esplanadas cheias de gente ávida por celebrar a tão aguardada entrada no fim-de-semana.

Nesta rua, é preciso esperar até conseguir uma mesa vaga em qualquer um dos estabelecimentos, lotados, sem mãos a medir para dar resposta à clientela. Nessa espera, que se adivinha longa, porém mais rápida do que se pensa, devido à reconhecida eficiência do serviço na ilha, é possível observar muitas famílias madeirenses a conviver, grupos de jovens a partilhar uma garrafa de vinho ou a saborear uma poncha, com tapas ou outros petiscos à mistura.

Mas nesta paisagem humana animada encontramos estrangeiros, muitos estrangeiros de várias idades e nacionalidades que se apaixonaram pela vila pitoresca a que chamam agora de casa, numa localidade onde até o Sol teima em permanecer mais horas.

A confluência entre as línguas inglesa e portuguesa, os idiomas que mais chegam ao ouvido, dá um toque cosmopolita ao concelho mais pequeno da Região Autónoma da Madeira (43,3 km²) e que foi o terceiro a ser povoado, depois de Machico e do Funchal.

No cair gracioso da noite, as esplanadas, aos poucos, começam a ficar mais vazias. A maior parte dos clientes prepara-se para se deslocar, em poucos passos, até ao Centro Cultural John dos Passos para assistir ao filme “Gilberto Gil – O poder da Música”, no âmbito do “Encontros do Cinema”, uma das atividades integrantes do Festival Travessuras Culturais.

O evento, que já soma sete edições, distingue-se pelo seu caráter provocador, multidisciplinar e interativo, que na sua génese pretende criar uma sinergia entre a força criativa da Região e os artistas de fora, para “levar o mundo à ilha e a ilha ao mundo”.

De facto, nesta vila conseguimos viver vários mundos dentro de um só mundo. Prova disso, são os ecos que se fazem ouvir do alto do topo do Penhasco, onde está edificada a Estalagem da Ponta do Sol, o ‘hotel de escape’, que é o sítio trendy do momento, onde os nómadas digitais e a comunidade local se juntam às sextas-feiras para as habituais “Purple Fridays”, tendo como premissa a celebração da beleza natural do município aliada a um conceito de networking, que prima pelos cocktails, música eletrónica e uma paisagem magnífica como pano de fundo.

Mas não só deste espírito de Soirée e boémia vive a Ponta do Sol, localidade onde residem atualmente cerca de 8.200 pessoas. Importa ainda referir um dos pontos históricos mais marcantes do centro da vila: a Igreja de Nossa Senhora da Luz, um dos monumentos mais emblemáticos da costa oeste da ilha da Madeira. Este templo, construído em finais do século XV, possui uma fachada imponente, que foi reconstruída em 1708 para aumentar o corpo da Igreja.

Este monumento incontornável apresenta traços extravagantes, típicos da arquitetura religiosa manuelina e neomaneirista. A sua beleza, ilumina, sem dúvida, o centro da vila, que vive deste casamento perfeito entre o clássico e o moderno, sendo essa a pincelada mestre que torna este sítio tão especial e sedutor, tanto para os madeirenses como para os estrangeiros.

Por fim, para ter uma perspetiva mais ampla sobre este encantador município, nada como ir até ao  Miradouro Sobranceiro à Ponta do Sol e contemplar o seu cenário arrebatador.

Aqui a natureza convida-nos a sentar nos bancos em cimento, a desfrutar da envolvência e a observar com calma o contraste que se forma entre as montanhas que abraçam a vila, e o mar ao fundo.

A Ponta do Sol nasceu em 1501, por carta régia de D. Manuel I, e foi o berço de algumas das mais importantes famílias da Madeira. O bom clima, de mãos dadas com o solo fértil rapidamente trouxeram abundância e prosperidade ao concelho, tornando-o o ex-libris da produção de Cana de Açúcar, outrora conhecido como o ‘ouro branco’, e da Banana. Talvez por isso, haja uma emoção doce que acompanha a visita a esta localidade que proporciona um pôr do sol estonteante em tons de laranja e cor de rosa.

Em boa verdade, o retrato do concelho mudou muito, nos últimos anos, sobretudo pela entrada dos nómadas digitais no seio da comunidade, o que agitou bastante o panorama social, cultural e económico. Porém, um dos traços diferenciadores da Ponta do Sol, desde a sua origem, foi precisamente o seu dinamismo cultural, já que na mudança do século XIX para o século XX só na vila pontassolense eram publicados cinco títulos de jornais.