Lifestyle level: Nomad

Praia ao final do dia. Caminhadas e golfe durante o fim-de-semana. Assim é a vida dos nómadas digitais na Madeira. 

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Foi em dezembro que Andrej Raider, um gestor de comunidade nascido na Rússia, mas a residir na Alemanha, ouviu falar da Madeira.

Raider sofre de transtorno afetivo sazonal, uma alteração de humor causada pela menor quantidade de luz solar que ocorre em certos climas. “Normalmente consigo arranjar atividades que funcionam como uma forma de distração da minha necessidade de sol, mas com tudo fechado na Alemanha foi difícil abstrair-me”, explica.

Numa curta pesquisa pela internet, descobriu que no arquipélago da Madeira ainda era possível sentar-se numa esplanada e desfrutar do sol. Veio de férias por uma semana, mas ao terceiro dia na ilha já tinha tomado uma decisão. A sua cadeira no voo de regresso iria vazia.

Mudou-se do Funchal para a Ponta do Sol no final de janeiro e ali encontrou o que lhe faltava na capital da ilha: “Tinha o mar, o sol e os espaços comerciais, mas na Ponta do Sol as coisas subiram de nível. Encontrei uma comunidade”, revela.

No dia 1 de fevereiro, a Ponta do Sol tornou-se oficialmente na primeira vila nómada digital da Europa, facilitando espaços de co-work para quem quisesse ali trabalhar. Desde então, o que começou por ser uma comunidade pequena desenvolveu-se e estendeu-se a outros municípios da Madeira.

“Quando cá cheguei éramos cerca de 20 e agora já andamos nas centenas. Na primeira semana conhecia toda a gente e agora só devo conhecer uns dez por cento”, revela num tom humorado Raider.

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Da esquerda para a direita: Andrej Raider, Piera Mattioli and Daniel Heffernan

Daniel Heffernan, um irlandês que trabalha para uma consultora financeira americana, fazia parte desse primeiro grupo. Na Irlanda, tomou conhecimento do projeto através de um vídeo de promoção. Uma hora depois já tinha viagem marcada com destino à Madeira. “Queria um local com melhores condições meteorológicas, com menos restrições e onde pudesse ter um melhor estilo de vida”, salienta Heffernan.

Na Madeira recuperou alguns hábitos que pareciam esquecidos: vai ao ginásio de manhã, fica na esplanada na hora do almoço e aproveita o fim da tarde para dar um mergulho na praia de calhau da Ponta do Sol.

Apesar de usufruírem do que a ilha tem para oferecer ao longo da semana, é durante os fins-de-semana que Raider e Heffernan aproveitam para conhecer a ilha, sempre acompanhados de membros da comunidade nómada.

“Quem chega aqui está a fazer a mesma viagem que nós. Quer explorar a ilha e partilhar as mesmas experiências”, explica Heffernan. Desde que está na ilha já percorreu cerca de 15 trilhos pedestres, aventurou-se pelo parapente e estreou-se, em março, no golfe.

Mas a oferta de atividades multiplica-se de semana para semana pelo Slack – uma aplicação em que é possível criar grupos e trocar mensagens. É o canal privilegiado de comunicação dos nómadas digitais que residem na ilha.  

O método é sempre o mesmo. Alguém propõe uma atividade no canal no dia anterior e os interessados respondem. É assim que se organizam para visitar outras partes da ilha, para surfar, fazer mergulho, meditação e yoga ou simplesmente para almoçar.

Piera Mattioli, uma ítalo-argentina focada na área do design, revela que o programa superou as suas expectativas. No entanto, é na comunidade e nas atividades que fazem em conjunto que vê a vantagem da Nomad Village.

“Acho a ilha e a Ponta do Sol magníficas, mas um espaço só cresce com a comunidade. Temos aqui pessoas interessantes, com trabalhos interessantes e estou curiosa por descobrir o que aí vem”, expressa Mattioli.

Na ilha desde fevereiro, a ítalo-argentina já estendeu a estadia até ao final de junho. A ideia inicial era ficar apenas dois meses.

Raider, Heffernan e Mattioli vieram trabalhar para a Madeira pelo clima, pelas restrições mais leves e pelas atividades ao ar livre. Mas aqui encontraram algo que não estavam à espera. Um sentido de comunidade que transcende o espaço do co-work.

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