As quatro vidas do Lido

Desde a velha piscina dos anos 30, o Lido resistiu a tudo, desde o mau tempo à mudança dos tempos. Este verão reabriu para uma nova vida.


lido1
lido2
lido3
lido4

 

Quando na Madeira se fala em ir à praia, o conceito pode gerar confusão. É mais uma ida a banhos, já que a maior parte dos acessos ao mar são difíceis e a maior parte teve de ser construída pelo Homem, para evitar o desconforto dos calhaus rolados de basalto, ou o perigo das rochas e escarpas.

Em 1932, com a ida a banhos cada vez mais na moda, a Câmara Municipal do Funchal mandou construir a Piscina do Gorgulho, uma piscina pública servida com água do mar.

Após essa construção, passou a ser mais fácil desfrutar da água, num ambiente mais seguro. Havia prancha para mergulhos e a piscina era um local privilegiado para a aprendizagem de natação. Socialmente o complexo era palco para chás-dançantes e eventos musicais.

Assim nasceu a longa história de um espaço balnear emblemático para os madeirenses.

Durante os anos 60 foram apresentados alguns projetos para a ampliação e melhoramento do espaço, incluindo a criação de uma piscina para crianças, planos que se concretizaram anos mais tarde.

Após algumas obras, em 1982 é inaugurado o complexo Balnear do Lido, com destaque para o aumento das áreas destinadas aos banhos de sol e da criação de um tobogan. Durante as décadas seguintes o espaço atinge o seu auge: recebe o galardão da Bandeira Azul, organiza o concurso Miss Praia Madeira e bate o seu recorde de entradas. Pelo meio, praticava-se o Madeirabol, um jogo, inventado na Madeira, que mistura o futebol e o voleibol.

Em 2010, depois de uma aluvião que destruiu grande parte do complexo, teve de ser encerrado. Seis anos mais tarde reabriu ao público, totalmente remodelado.

No dia 22 do passado mês de março o Lido ganhou uma nova vida. Ao longo das décadas, o Lido marcou o seu tempo e tornou-se num espaço de encontro entre várias gerações.

Agora regressa, com a mística de sempre, trazendo novidades mas conservando as características que fazem do Lido, “O Lido”.

lido5
lido6
lido5
lido6

Durante todo o ano há frequentadores assíduos, que não perdem a oportunidade de desfrutar do mar ou do sol.

Seja em família, com amigos ou sozinhos, muitos já têm o seu lugar “marcado”, num código silencioso para com a comunidade que frequenta o espaço. Todos conhecem o seu sítio e aos poucos vão conhecendo quem fica ao seu redor.

Do ponto de vista arquitetónico, Carlos Jardim, administrador da Frente Mar, empresa responsável por várias praias no Funchal e que desde 2004 administra o espaço, explica que foram preservados os principais aspetos mais marcantes, como a visível arquitetura de varandas.

A mítica “Onda” de Valtar Kalot, da década de 80, também ainda lá está, imóvel a estas mudanças.

Quem conhecia o complexo reconhecia-lhe um pouco mais de cor. Este aspeto mais clean e minimalista foi uma opção consciente revela o administrador da Frente Mar: “Tem a ver com os tempos em que vivemos. Hoje em dia, a arquitetura é encarada como uma tela em branco e as pessoas é que vão dar o colorido”.

Logo à entrada, a bilheteira e os jardins quase que se unem. No interior, as rochas numa das imediações do espaço são o exemplo de uma simbiose perfeita entre a natureza e o trabalho do homem. Existiu uma “grande preocupação em não intervir no que era natural”, revela Carlos Jardim.

A piscina, reduzida por motivos de segurança, continua a ser um dos grandes atrativos. Mas o grande ex-libris é o acesso ao mar. Seja através de pequenas escadas ou de uma prancha com doze metros de altura, o mar envolve o complexo e abre-se para o mundo.