Para a Rússia com amor

A Madeira quer aumentar a exportação e vinho para a Rússia, reativando uma tradição que remonta ao tempo dos czares.

 

 

Um dos episódios mais conhecidos, relacionados com o vinho Madeira é de que ele foi usado no brinde que selou a assinatura da declaração de Independência dos Estados Unidos da América, em 1776. Mas se dissermos que do outro lado do Mundo, em São Petersburgo, mais ou menos pela mesma altura, se começava a ouvir falar deste vinho, aí a história é mais surpreendente.

É a partir da assinatura do Tratado de Amizade, Navegação e Comércio entre Portugal e a Rússia, em 1787, que a exportação de vinho Madeira para aquele país atinge números relevantes, fruto da abertura de rotas comerciais.

A história do vinho Madeira na Rússia é o tema do livro "O vinho dos Czares", da autoria do jornalista português José Milhazes e da sua mulher, Sirri Milhazes, uma obra apresentada na Madeira e vista como um contributo para a divulgação do Madeira na Rússia.

José Milhazes, correspondente de vários órgãos de comunicação social portugueses na Rússia, explicou na cerimónia de apresentação que um dos objetivos do livro, cuja edição é bilingue, foi lembrar aos madeirenses e aos russos que o vinho da Madeira foi um dos "mais famosos" na Rússia, nomeadamente na corte. Mesmo antes de Catarina, a Grande, ter assinado com D. Maria I de Portugal o tratado de amizade, já se falava do Madeira na Rússia, embora fosse um produto raro.

O vinho generoso madeirense popularizou-se nas elites do país, sobretudo entre a nobreza. Exemplo disso é a referência nos clássicos da literatura, como Leão Tolstoi.

 

 

Ao longo do século XIX, a Rússia tornou-se num dos principais importadores do Madeira, fruto do trabalho dos irmãos Piotr e Gregorii Elissev. Piotr passou pela Madeira e aqui viveu durante algum tempo, tendo a oportunidade de conhecer o processo de produção e as caraterísticas do produto. A partir da década de 1820 estes dois irmãos ganharam relevância no negócio de importação, com duas lojas, nas cidades de São Petersburgo e de Moscovo.

No dealbar do século XX, o valor anual importado rondava os 800 mil litros, bem acima dos 16 mil litros vendidos em 2017. Os números do ano passado representam, mesmo assim, um aumento de 20 por cento face ao ano anterior, mas demonstram que apesar do potencial do mercado russo, o vinho Madeira tem estado praticamente ausente daquelas paragens.

Em termos comparativos, de acordo com os dados fornecidos pelo Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira, o total de vinho Madeira comercializado em 2017 atingiu os 3,2 milhões de litros, gerando 19,1 milhões de euros de receitas de primeira venda. A Rússia está, por isso, longe de mercados historicamente importantes como o Reino Unido, os Estados Unidos, a França e até o Japão.

A explicação para este afastamento em relação à Rússia radica na História e é apresentada pelo jornalista José Milhazes: «Durante a época comunista» depois da Revolução Bolchevique de 1917, «deixou de se comprar vinho da Madeira e passou-se a comprar só depois do 25 de Abril e em quantidades muito pequenas».

Na verdade, só após o fim do comunismo, e a partir de 1991 o vinho Madeira começou a regressar àquele país, tendo vindo a registar um crescimento lento, explicado por José Milhazes com a aposta e empenho dos exportadores madeirenses e o número crescente de turistas russos que visitam a Madeira.