Desde sempre ligados à arte da pesca, os barcos Xavelha também são como uma atração turística e um motivo para um passeio no mar.
Na década de 40, a então vila de Câmara de Lobos viu nascer no pequeno rochedo conhecido por ‘ilhéu’, um bairro onde por excelência vivia a classe piscatória. Cerca de 60 anos mais tarde, o bairro foi demolido e deu lugar a um jardim com vista mar.
Nos nossos dias, em Câmara de Lobos continuam a existir dezenas de Xavelhas – nome dado às embarcações de pesca – que dão cor à baía. No entanto, há uma que se distingue das outras pela sua função. Construído em 1936, o São João de Deus já há muito que deixou o ofício da pesca.
Futre Veríssimo, um dos responsáveis, explica as várias vidas do São João de Deus que já foi um barco de pesca de atum e de peixe-espada e, anos mais tarde, representou a Madeira na Expo-98 – Exposição Internacional, ocorrida nesse ano em Lisboa, fazendo a travessia da Madeira até à capital portuguesa.
Após alguns anos de paragem, a embarcação de Futre Veríssimo faz agora passeios turísticos com saída de Câmara de Lobos. “Estamos a falar de uma vila em que todas as famílias tinham um ou dois pescadores. Esta é a nossa forma de homenagear esta gente, para que não se deixe de contar aquilo que é a história de Câmara de Lobos”.
O São João de Deus tem cerca de oito metros de comprimento e capacidade para dez pessoas. Neste momento, encontra-se a promover passeios em que é possível ver o nascer ou o pôr-do-sol em alto-mar. Este Xavelha funciona também como táxi-marítimo durante o dia, passando pela Fajã do Rancho, Cabo Girão, Calhau da Lapa e Fajã dos Padres.
Na Madeira, o nome dos barcos típicos de Câmara de Lobos tem tanto significado que acaba também por apelidar, de forma informal, alguém natural da cidade vizinha do Funchal.
No passado mês de julho, o tal ‘ilhéu’ de Câmara de Lobos recuperou parte da mística ligada às artes da pesca, com a instalação de uma escultura.
Designada Coroa do Ilhéu, é uma embarcação tradicional Xavelha, da autoria dos madeirenses Rigo 23 e de Bailinha, e, tal como o barco de Futre Veríssimo, pretende homenagear os pescadores e aquele que foi o seu ganha-pão durante décadas.