O recreio do Atlântico

Mais do que uma fronteira, o mar é cada vez mais uma fonte de lazer, onde não faltam propostas de atividades e lugares únicos.

 

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Todos os anos, a 4 de Julho, os mares da Madeira fazem parte do campeonato mundial de pesca do Espadim-azul. A competição acontece no mesmo dia em diferentes pontos do planeta e ganha a equipa que pescar o exemplar com mais peso.

Este campeonato não é novo, nem é recente a inclusão da Madeira na lista de zonas do planeta onde ele acontece. Mas é apenas um exemplo de uma das atividades de lazer associadas ao mar, com mais tradição nestas ilhas.

A pesca grossa tem procura todo o ano, variando a espécie que os pescadores podem encontrar. Mas é apenas uma possibilidade numa lista de atrativos que o mar oferece, ou não fosse a Madeira um destino turístico insular premiado.

Historicamente o mar foi uma barreira. Mas com o passar do tempo tornou-se um desafio. Às formas tradicionais de encarar os recursos marinhos, como a pesca, ou o transporte de cargas e passageiros, juntou-se, ao longo do século XX, uma vocação cada vez mais turística.

A náutica de recreio, as competições desportivas, ou o simples ato de nadar e apanhar um pouco de sol, foram conceitos que cresceram com o século e hoje fazem parte de um extenso leque de atividades, que inclui surf, stand up paddle, bodyboard, entre muitos outros.

A localização destas ilhas sempre as colocou nas rotas marítimas do Atlântico e isso mantém-se nos dias de hoje, com um grande número de iatistas a cruzar o oceano e a fazer escala aqui, numa das três marinas e dois portos de recreio da Madeira e do Porto Santo, que no total oferecem cerca de 1.000 postos de amarração. Por aqui passam mesmo algumas regatas internacionais, como a Transquadra.

Mas para muitos a relação mais direta com o mar passa por fazer praia. E nesse campo a Madeira não pode orgulhar-se de ter praias de areias amarelas com uma extensão a perder de vista. Muitas são de calhaus rolados, de origem basáltica. Outras são mistas, com areias misturadas com calhaus, como a Praia Formosa no Funchal. Outras ainda, como o Seixal, na costa Norte, são de areia basáltica.

A lista, ainda assim, é grande e contempla outro tipo de acessos, construídos pelo Homem e que no conjunto totalizam 30 praias e zonas balneares públicas, número que não inclui os hotéis que construíram os seus próprios acessos ao mar.

Parece estranho fazer praia numa plataforma de cimento, em que se entra no mar mergulhando, ou através de degraus em pedra. Mas visto com outros olhos este é um fator de identidade da Madeira.

Aqui também existem recantos de beleza singular, como as conhecidas piscinas naturais do Porto Moniz, servidas por um moderno complexo balnear, ou Doca do Cavacas, no Funchal. Há também a Fajã dos Padres, em que uma escarpa abrupta suaviza numa praia de calhaus rolados; ou o Calhau da Lapa, muito procurado pela tranquilidade que oferece, mas cujo o acesso é feito por centenas de degraus.

O motivo de tudo isto? O Arquipélago da Madeira faz parte de uma cadeia montanhosa subaquática, maioritariamente submersa. As ilhas são a face visível dessas montanhas, o que explica o relevo acidentado.

A grande praia do arquipélago está no Porto Santo. São 9 km de areal dourado, campeão de prémios e de características medicinais que a tornam única no Mundo. As águas de um verde-esmeralda dispensam mais comentários: A praia do Porto Santo é um ex-libris.

É também nesta ilha que se encontra o único recife artificial para mergulho, que nasceu com o afundamento do navio mercante “Madeirense”. O mergulho faz-se também na Madeira, em locais como a reserva natural do Garajau, ou no Clube Naval do Funchal, que até tem um percurso subaquático com placas de informação. Não são as águas com peixes multicolores do caribe, mas existe muita visibilidade e a vantagem de se poder aceder diretamente a partir de terra, sem necessidade de um barco de apoio.

Grande parte da beleza do mar da Madeira está nas restantes ilhas do arquipélago. A 180 milhas a sul estão as Selvagens, santuário de beleza natural, mas de difícil acesso. Mais perto estão as Desertas, ao largo do Funchal, a cerca de duas horas de viagem. Várias empresas oferecem passeios de um dia, com visita às ilhas, almoço e a possibilidade de avistar baleias e golfinhos.

A atividade de observação de cetáceos é, de resto, uma das que tem maior projeção. Todos os dias diversas embarcações saem dos Portos do Funchal e da Calheta com esse objetivo. E o que torna a atividade interessante é que na Madeira, a probabilidade de avistar cetáceos é grande, ao longo de todo o ano. E mesmo que tal não seja possível, o passeio pela costa sul é sempre agradável.

A aposta no mar como recurso de lazer é cada vez maior. O tema motivou, recentemente, a elaboração de um estudo por parte da Câmara de Comércio do Funchal, onde fica demonstrado que as atividades náuticas têm um elevado potencial de crescimento, a par dos restantes recursos do mar, como a investigação, a pesca, ou a energia.

Para além do lazer o Porto do Funchal é também um ícone incontornável neste cenário, não só pela tradição e história, mas porque é responsável por trazer cerca de meio milhão de passageiros por ano.

Como se tudo isto não bastasse, a Madeira oferece uma relação com o mar que só uma ilha pode aspirar a ter. Num só dia, é possível passear na montanha e dar um mergulho ao fim da tarde.

A proximidade é tão grande que o mar parece querer envolver-nos com a sua imensidão. A simples contemplação, a saborear a comida do restaurante, ou a apreciar a vista de uma esplanada, estão ao alcance de uma vontade e podem ser feitos durante todo o ano…