A catedral de metade do mundo

Houve um tempo em que o Funchal e a sua catedral eram a sede da diocese de todo o Império Português.

 

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No coração do Funchal mora um dos edifícios mais emblemáticos da história, não só da Madeira mas também, do mundo.

Durante o século XVI, a Sé do Funchal foi durante vinte e dois anos a arquidiocese mais relevante da época. Hoje em dia a sua beleza arquitetónica e conteúdo único refletem a sua importância histórica.

De fora, a catedral destaca-se pela sua imponência. Apresenta-se com um portal de seis arquivoltas, a lembrar o estilo gótico, rematado com as armas do rei D. Manuel I, com coroa aberta.

A torre, terminada em 1517-18 (fase final da construção do edifício), possui quatro pisos e eleva-se a cerca de 55 metros. No seu topo, destaca-se um coruchéu quadrangular piramidal, coberto a azulejos sevilhanos. O relógio, a que ninguém fica indiferente, guia os apressados dos transeuntes e marca o ritmo da vida na cidade.

O interior, com altas e distintas colunas entre arcos que ondeiam, apresenta-se com três naves. Na capela-mor, onde o dourado é a cor que sobressai, o retábulo possui cinco corpos, divididos em três andares, com doze pinturas a óleo, de estilo flamengo.

Tal como o cadeiral, único manuelino a chegar aos dias de hoje no seu local original, o retábulo-mor foi alvo de obras de reabilitação em 2014. As pinturas e os elementos da talha foram limpas e “alguns detalhes, foram renovados”, revela o Cónego Vitor.

Mas não é só a obra que espanta. A sua história é complexa, envolvente, e cheia de avanços e recuos. O processo de expansão marítima era já uma prioridade para a coroa portuguesa quando, em 1494, se assinava, na povoação espanhola de Tordesilhas, o tratado que dividiria o mundo entre o Reino de Portugal e o de Espanha.

A necessidade de criar um centro espiritual, que pudesse controlar as pretensões portuguesas, tornava-se cada vez mais evidente após o falhanço, em meados da década de 80 do século XV, da construção da Sé do Funchal.

A ideia enfraqueceu logo que fora apresentada ao Papa Alexandre VI, conhecido na história pelo seu sobrenome: Borgia. Em 1508, o Funchal era elevado a cidade e dava-se a sagração das paredes da Sé Catedral, que terá sido levantada a partir de 1500.

Mais tarde, em 1514, foi criada a Diocese do Funchal, uma diocese de “metade do mundo”.

Os 500 anos da Diocese do Funchal deram o mote para o Livro “A Sé do Funchal: 1514 – 2014”, um trabalho de “promoção, divulgação e marcação da posição da maior diocese do Mundo, da diocese dos descobrimentos e do protagonismo da Madeira no Atlântico” afirma Rui Carita, historiador e autor da obra editada pela Direção Regional de Cultura.

Segundo o historiador, a principal novidade, em relação ao que já foi feito sobre o tema, é que este “não é um trabalho de história da arte, não é um trabalho de história social”, nem é um trabalho de história religiosa. Trata-se da junção das três áreas, numa tentativa de estabelecer uma leitura transversal dos acontecimentos.

É uma forma de fazer um “ponto de situação em relação aos quinhentos anos da diocese”, de destacar as personalidades que ali se distinguiram e de fazer uma análise ao seu papel na ilha, porque era “o centro do poder: Ninguém nasce sem ser na igreja, porque é preciso ser batizado, ninguém casa” sem o consentimento dela e, quando morrem, são enterrados numa cerimónia religiosa.

Carita refere que é um livro de fácil consulta, “muito ilustrado, feito de uma maneira que seja muito acessível”. As notas e o peso da história encontram-se no final de cada capítulo, porque assim não interfere com a leitura.

Os interessados podem visitar a mais importante igreja madeirense de segunda a domingo, das 7:30 às 12:00 horas e das 16:00 às 18:30 horas. Organizadas por grupos turísticos, existem visitas guiadas todos os dias, às 10:00 horas.