As flores são uma imagem de marca que tornaram a Madeira conhecida no Mundo, mas são as floristas que lhes dão um rosto humano.
A tradição nasce de estórias e de hábitos. Na Madeira as flores criaram o seu próprio lugar nas tradições locais. Em grandes jardins ou em pequenos vasos tornam verdade o verso “a Madeira é um jardim”, cantado no célebre “Bailinho da Madeira”, a canção símbolo do folclore regional.
A temática é recorrente nalguns poetas contemporâneos madeirenses. “As flores costumam brotar do caminho”, escreveu José António Gonçalves; “numa ilha bordada de flores”, completa a poetisa Ângela Varela.
Muito já se escreveu sobre as flores da Madeira, que ajudaram a tornar a ilha conhecida. Muito já se teorizou sobre o quanto flores dos quatro cantos do Mundo encontram aqui condições para florir, mas não são apenas os poetas e os eruditos que contribuem para esta fama.
Pelas mãos das floristas ganham vida, voz e brilho. Contam histórias de vida com a mesma facilidade com que se movimentam por entre arranjos ou posam para uma fotografia, como se das manequins mais requisitadas do Mundo se tratasse.
No largo Gil Eanes, perto da Catedral do Funchal, Maria Leonor maneja as flores há vinte e cinco anos, mas a sua família já lá está há cinquenta, sempre no mesmo local. Ali trabalhou a sua mãe e hoje é ajudada por uma filha.
A paixão, essa, começou bem nova, “com sete ou oito anos”, quando ia para a porta do Reid’s Palace com a avó, vender flores aos turistas. Era um “vício, tinha de ir!”
A chegada da Festa da Flor, para uma florista, é um momento especial. No espetáculo anual que é a Madeira, durante a celebração o palco principal é delas e da sua arte, a de tratar das flores como ninguém. A festa é uma forma de assinalar a Primavera, normalmente em Abril.
No Mercado dos Lavradores, foco de atenção para as flores da Madeira, Isabel Pereira posa para mais uma foto. Por cortesia, o turista fotógrafo dá-lhe uma moeda. Ela sorri. Tem setenta e seis anos e vende flores há cinquenta e nove…
Começou, como muitas, por subir a bordo dos navios: “Eu tinha uma licença especial para entrar a bordo”. Era ali que fazia o seu negócio, vendendo, com arte e engenho, grandes arranjos ou lembranças de uma ilha em jeito de flor.
Depois veio para a banca do mercado, de onde nunca mais saiu, já lá vão 35 anos. Tem clientes habituais e muitos amigos estrangeiros, que lhe escrevem e encomendam flores e que, de forma carinhosa, se interessam em saber “como vai a sua amiga das flores”.
Ali, as relações perduram e param no tempo. Entre as estrelícias, as próteas e as orquídeas, num remexer meticuloso e cuidado onde apenas as mãos dedicadas de uma vida inteira conseguem mover-se, aparece-nos Cecília Rodrigues.
É a florista que há mais tempo trabalha no Mercado dos Lavradores, há 43 anos. O pai era revendedor de flores e com oito anos apenas, orgulhosa, já o acompanhava nas idas ao mercado. “Era uma paixão que tinha pelas flores, desde miúda”, revela. Nas frequentes visitas, foi desenvolvendo amizades e entre uma afirmação, que soava a sonho, dizia ao pai que “também gostaria de ter a farda”, a tal que as suas amigas usavam.
Anos mais tarde o sonho concretizou-se e o pai estabeleceu-se ali. Com doze anos, lembra o primeiro dia em que vestiu o traje regional. Desde então apaixonou-se por aquele local: “Gostei e gosto de estar aqui, portanto, espero ficar aqui para sempre!”
Se a maior parte se lembra de como iniciou a atividade no mercado, Vitalina Vieira é das que confessa não saber há quanto tempo ali trabalha. A história é comum e fala da paixão pelas flores a um ponto em que não consegue escolher a que prefere.
Entre os madeirenses e turistas, há uma que goza de grande fama: A estrelícia, seja pela sua forma peculiar ou pelas suas cores, é uma das flores que mais destaque tem nas bancas.
Mas existem outras que vão conquistando o olhar de quem passa, como os antúrios, as orquídeas, as próteas, as frisas e os jarros. Cecília Rodrigues confessa que durante a Festa da Flor os turistas assistem ao cortejo e no dia seguinte estão no mercado à procura do que viram.
Seja em sementes, bolbos ou em arranjos, encontram sempre uma maneira de conservar aquele pedaço de ilha, de uma época não apenas dedicada às flores, mas também a quem cuida delas, durante todo o ano.